"A desigualdade é evidente ao observarmos que as mulheres negras recebem em média apenas 48% do salário dos homens brancos"

Março é sempre um mês carregado de significados para muitas mulheres no Brasil e no mundo, e eu não sou exceção. Com mais de 30 anos dedicados à política em prol das mulheres, desde os primeiros passos lá nos idos de 1990, em Igarapé-Miri, no Pará, até os dias atuais em Brasília, trago comigo uma bagagem de experiências e lutas que moldaram minha visão de mundo e minhas prioridades.

Ao longo dessa jornada, passei por diferentes lutas, desde o Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais da minha cidade, Fetagri, Contag e CUT até a Coordenação da Marcha das Margaridas, um dos movimentos de mulheres mais emblemáticos do país. Cada passo foi marcado pela busca incessante por mais justiça, igualdade e dignidade para as mulheres. E é com essa bagagem que trago uma reflexão sobre dois temas cruciais: a igualdade salarial e a violência política contra as mulheres.

A igualdade salarial, embora prevista na CLT, ainda é uma realidade distante para muitas mulheres brasileiras. Segundo o IBGE, a diferença salarial entre homens e mulheres chega a 20% em média, e para combater a essa disparidade, o governo Lula criou a Lei da igualdade salarial (14.611/2023), que visa corrigir essas injustiças e garantir salários iguais, independentemente do gênero. Na contramão da história, duas confederações questionaram, recentemente, alguns pontos dessa lei, alegando possíveis danos à reputação das empresas.

A equiparação salarial parece óbvia para muitos, mas infelizmente, o machismo estrutural que permeia a nossa estrutura social ainda propaga a ideia de que as mulheres têm menos capacidade técnica e são emocionais. Já os números provam o contrário: pesquisas mostram que somos maioria nas universidades, e que governos e empresas com maior representação feminina são mais inovadores, transparentes e responsáveis.

A desigualdade salarial é evidente ao observarmos que as mulheres negras no Brasil recebem em média apenas 48% do salário dos homens brancos, conforme dados da FGV referentes ao primeiro trimestre de 2023. Além disso, mulheres pardas e pretas que são chefes de família compõem a maioria das pessoas em situação de insegurança alimentar. Esses fatos destacam a crueldade e injustiça da desigualdade salarial para as famílias brasileiras.

Outro ponto é a violência política contra as mulheres, uma realidade que causa danos profundos à nossa democracia e à participação das mulheres na vida política do país. Como coordenadora de um Grupo de Trabalho Interministerial sobre o tema, pude testemunhar de perto a gravidade dessa situação e a urgência de medidas efetivas para combate-la.

Recentemente, o Governo Federal lançou um edital para capacitar mulheres em espaços políticos, um avanço na luta contra a violência política de gênero. No entanto, essa batalha por igualdade transcende políticas estatais, estendendo-se a ambientes como empresas, universidades e sindicatos, onde mulheres lutam diariamente por voz e direitos. Enquanto a desigualdade persistir, nossa determinação pela justiça continuará. Este é meu compromisso como mulher e cidadã, uma missão que persiste para além de março.

Publicado inicialmente em O Liberal.
Carmen Foro é secretária de Articulação Institucional, Ações Temáticas e Participação Política do Ministério das Mulheres.